Diário de uma jornada que agora se inicia . Dicas, dietas e sentires . Tudo regado com uma pitada de humor ! Sim, o humor torna tudo mais leve ...
terça-feira, 8 de agosto de 2017
Somos lindas carecas, com peruca ou lenço! Acima de tudo somos guerreiras !!
E lá fui eu fazer a 2ª sessão de Quimioterapia (AC - Doxorrubicina e Ciclofosfomida) é como se chama este ciclo, só por curiosidade, sim que o conhecimento não ocupa lugar e isto também é um serviço publico, ora essa !!
E mais, apesar de já te descido um pouco lá para o fundo do mar, vou de livro/enciclopédia/dicionário em punho e com uma destreza no raciocínio que até estou assustada, mais rápida que um relâmpago e fluido que nem um rio em movimento ( e quase poeta, tá visto) por isso resolvi já vir escrever um novo post , que tenho para mim que amanhã não vou saber qual o meu nome completo, ( sim que quando a esmola é grande o pobre desconfia ).
Bem mas vim partilhar uma situação que me aconteceu ontem e hoje aquando da minha ida ao hospital, para analises/consulta e quimio.
Esta cena de "ser forte e grande" e agora careca tem que se lhe diga, pois não é fácil encarar todos os olhares que se cravam na nossa brilhante careca . Sim , tenho a noção que choco com a minha atitude e posição ao assumir a dita. Já há quem o faça , apesar de ainda sermos uma minoria dai não se estar tão habituado. Respeito, admiro e entendo quem não o faça, porque não é fácil olharmos ao espelho e perceber que perdemos muito da nossa feminilidade, é um choque muito grande.
Dai ter desenvolvido uma estratégia para me proteger dos olhares incessantes, ( pois não consigo adivinhar o propósito deles) entro e finjo que estou sozinha com o meu acompanhante, logo nem sei quem está presente. Nem sempre é possível quando as pessoas olham para trás ou estão no nosso ângulo de visão a observar atentamente cada milímetro da moleirinha .
No entanto hoje tive duas surpresas muito giras , uma na sala de espera para fazer a quimioterapia e outra numa foto partilhada no Facebook .
A 1ª na sala ; estava eu tranquila a aguardar que me chamassem entra uma das "companheiras de luta" quase careca ( sim a ela restavam um amontoado de cabelos ralinhos espalhados que me fazia lembrar o Cebolinha da turma da Mónica com 3 pelos no alto da testa) que estava no dia anterior na sala de espera para a consulta (a que estava a olhar para trás) resolve abordar-me com um ar muito feliz e a congratular-me pela minha opção de assumir e que acabou por me perguntou a minha opinião se deveria ou não rapar os pêlinhos que lhe restavam - ôhhhh gostei tanto, foi tão quida !!!
Claro que lhe disse que era uma opinião muito pessoal , se ela se sentisse bem que deveria de o fazer , pois nem sempre é fácil . Estavam presentes várias companheiras com lenços e perucas , tentei dizer as coisas sem ferir susceptibilidades, mas acho que não consegui , segundo a minha filha . Pareceu que me estava a vangloriar por o conseguir fazer, não foi de todo a minha intenção, enfim há que ter cuidado.
A 2ª foi alguém que viu uma publicação minha e achou coincidência, pois tinha-me visto no hospital e que não se coibiu de comentar . Estava a acompanhar o pai na consulta e começou a observar quem estava presente na sala e eu pelos vistos me destaquei não só pela minha carequinha linda e maravilhosa , mas especialmente porque irradiava confiança e segurança ( palavras dela) , fiquei muito sensibilizada pelas palavras claro e fiquei a perceber que nem todos os olhares são menos bons ( ou serão macaquinhos na minha cabeça, serão certamente) .
Com tudo isto fiquei também a pensar que o intuito dos meus post e fotos da moleirinha branca não é de me vangloriar pela maneira como estou a encarar este desafio, pois não estou a fazer nada de especial, a força fui busca-la não faço ideia onde , talvez sempre tivesse cá , apenas não sabia da sua existência. Quando acompanhei a minha melhor amiga nesta luta em que infelizmente acabou por perde-la , sempre a achei um furação de vida, uma força interminável e sempre a vi como heroína para a minha vida, sem saber que também eu viria a enfrentar a mesma doença. Disse sempre que se um dia me acontecesse o mesmo não teria nem metade da coragem dela , enganei-me redondamente , afinal sou quase tanto quanto ela . Sei que facilita muito a minha vida e de quem me rodeia, pois não carrego o estigma tão pesado da doença, enfrento-a como se de um " furúnculo na unha do dedo do pé " que moí mas não mata .
Se isso ajudou na reacção do meu corpo? Tenho a certeza absoluta, a nossa mente faz metade do trabalho para a nossa recuperação . Vi uma companheira que hoje fazia a sua estreia na quimio, vinha acompanhada com a filha e marido, estava em pânico literalmente , a família tentava o que podia para lhe dar alento e animo, mas os olhos dela estavam derrotados . Foi complicado de ver , devo de a encontrar na próxima,gostava de perceber o estado de animo nessa altura , espero que melhor ! Nem sempre se consegue ver o fundo ao túnel e infelizmente o tabu e estigma "cancro" é muito pesado e quem o está a viver acaba por se deixar levar por esse mesmo peso.
Mas sobre esse tema do tabu irei falar noutro post .
Este já vai longo e muito sério , mas por vezes é preciso .
Com peruca, lenço ou carecas somos lindas !!
Sejam felizes acima de tudo,
um beijo
Cristina Afonso
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